sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

LEITURA DE AUXÍLIO PARA PRODUÇÃO DA BIOGRAFIA ECOLÓGICA


Sujeito ecológico: a dimensão subjetiva da ecologia
Isabel Cristina de Moura Carvalho

Em poucas palavras...
Sujeito ecológico, em poucas palavras, é um modo de ser relacionado à adoção de um estilo de vida ecologicamente orientado. Trata-se de um conceito que dá nome àqueles aspectos da vida psíquica e social que são orientados por valores ecológicos. O sujeito ecológico pode ser ainda descrito como um ideal ou uma utopia internalizado pelos indivíduos ou pessoas que adotam uma orientação ecológica em suas vidas. Então, pra começo de conversa, vou situar o que significa subjetividade e como esta pode se tornar “ecologicamente orientada”. Para entender como então nos tornamos ecológicos em nossa dimensão subjetiva, vou situar o que entendo por subjetividade.
Subjetividade: um modo de ser no mundo A palavra subjetividade pode ter varias conotações. No campo da psicologia, subjetividade não é uma mera palavra, mas um conceito. Contudo, isso ainda não resolve os
múltiplos sentidos que esta pode ter, mesmo entre os psicólogos. Eu prefiro trabalhar dentro de uma abordagem da psicologia social que pensa a subjetividade e o sujeito humano sempre situado num tempo histórico e num espaço social, cuja identidade está em permanente autoconstrução e negociação com o mundo. Este conceito de subjetividade se afasta tanto de uma ideia bastante comum que a toma como algo exclusivamente a vida interior das pessoas.  Parece-me mais produtivo pensar o fenômeno humano como desde sempre localizado no mundo, como um fenômeno simultaneamente social e individual, subjetivo e objetivo, psíquico e biológico, cultural e biológico. Neste sentido, tomando o ser humano como um ser no mundo, a vida pessoal não pode ser tomada como um acontecimento exclusivamente particular, mas é desde sempre, constituída pelos elementos culturais e pela historicidade. 

A noção de sujeito ecológico Considerando que a subjetividade é um modo de ser no mundo, a noção de sujeito ecológico, é um modo específico de ser no mundo, em outras palavras, é um "jeito ecológico de ser".  O sujeito ecológico designa um ideal ecológico, uma utopia pessoal e social norteadora das decisões e estilos de vida dos que adotam, em alguma medida, uma orientação ecológica em suas vidas. 
Como ocorre com outros ideais que os indivíduos tomam como modelo para si, nem sempre é possível realiza-los cem por cento na vida diária. Assim também ocorre com o ideal sinalizado pela noção de sujeito ecológico. Este tentar ser, certamente esbarra em vários obstáculos. Alguns deles são provenientes do fato de que a sociedade ainda não é tão ecológica como gostaríamos e nem sempre há oportunidades coletivas que facilitem e promovam um estilo de vida ecológico. Outros obstáculos são derivados das contradições dos ideais de que as pessoas são portadoras. Podemos pensar, por exemplo, na valorização da rapidez, da velocidade de resposta, e de ação, virtudes associadas à eficiência e a produtividade no trabalho. Este valor, muito freqüentemente pode reforçar a opção pelo transporte individual em geral mais rápido e conflitará com opões mais ecológicas como a ir de ir a pé, de bicicleta ou de transporte publico todos os dias para o trabalho.  Do mesmo modo, a liberação da mulher dos trabalhos domésticos oportunizada pelo uso intensivo de tecnologias poupadoras de tempo também pode conflitar com os ideais ecológicos de menor dependência de tecnologias intensivas em energia e a valorização da autossuficiência que se traduz nas idéias de vida simples, nos apelos do "faça você mesmo seu jardim, sua composteira, sua comida, etc". O quero destacar é que, mesmo para quem se identifica com a proposta ecológica, ha uma permanente negociação intrapessoal, interpessoal e política em torno das decisões do dia a dia. Quem já pensou, por exemplo, em abrir mão da máquina de lavar para economizar energia? Esta é uma negociação onde dificilmente seremos exclusivamente ecológicos. Neste sentido a busca de imprimir uma orientação ecológica à vida não nos poupa de contradições, conflitos e negociações diárias. 

E, por fim, é preciso considerar que ha também, na sociedade, pessoas e grupos que absolutamente não se identificam com os apelos de uma existência ecológica. Para estes os ideias preconizados pelo sujeito ecológico podem ser vistos como ingênuos, anacrônicos, pouco práticos, malucos, enfim, de alguma forma não são reconhecidos como valores desejáveis.   

O sujeito ecológico e o educador ambiental 

Dentro dos grupos sociais que se identificam com os ideais ecológicos vamos encontrar muitos dos profissionais ambientais e, dentre estes, o educador ambiental. O educador ambiental, ao mesmo tempo em que está imbuído de uma subjetividade ecológica é um ativo produtor desta subjetividade, na medida em que forma pessoas para uma vida ecologicamente orientada.
O educador ambiental, desta forma, promove o projeto identitário do sujeito ecológico. O contexto que situa e torna possível o sujeito ecológico é a constituição de um  universo narrativo específico, que se configura material e simbolicamente como um campo de relações sociais em torno da preocupação ecológica. Neste sentido, a noção de sujeito ecológico pode também ser considerada como uma espécie de subtexto presente na narrativa ambiental contemporânea, configurando o horizonte simbólico do profissional
ambiental de modo geral e, particularmente, do educador ambiental. Neste sentido o educador ambiental é alguem identificado com o sujeito ecológico como ideal de ser e formador deste mesmo ideal na sua ação educativa. 
Ao tentar alinhar seus posicionamentos politicos, opções individuais e atitudes pessoais e interpessoais com os ideais de um sujeito ecológico, o educador ambiental assume o desejo e o compromisso de certa consonância entre sua vida e sua causa, tornando sua vida pessoal uma espécie de laboratório de aprendizagem que antecipa a utopia de sociedade ecológica. O interessante é verificar como se tornam porosas, neste caso, as fronteiras entre a intimidade e a vida pública, a dimensão pessoal e a política. Ao que parece, este sacerdócio ou casamento com a "utopia ecológica", parece ser,  no caso dos profissionais ambientais, uma das condições de ingresso e reconhecimento no campo,  com os custos e as gratificações que isso traz.



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