quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Módulo I - Eixo III: Bem-Estar


Bem-Estar

Todos os seres que co-existem na biosfera do nosso planeta dependem de ecossistemas – do grego oikos = casa + systema (σύστημα) – preservados para sobreviver. Ecossistemas são conjuntos articulados e organizados de comunidades de seres que vivem e interagem em determinada região e de fatores que atuam sobre essas comunidades.
Conforme vimos, os fatores que geram as mudanças ambientais globais causam alterações nos ecossistemas e a perda de biodiversidade. Eles colocam em risco as comunidades de seres vivos e, em especial, afetam as condições de vida dos seres humanos no que diz respeito às gerações presentes e futuras. 
Embora se perceba relativa melhora na qualidade de vida de uma parcela da população do planeta, presenciamos profundas alterações nos ecossistemas. Essas alterações se devem principalmente ao aumento das demandas por alimentos, água, fibras e energia, que são comercializados.
Com a crescente perda de cobertura vegetal e a diminuição e/ou contaminação dos corpos líquidos, o planeta tem perdido biodiversidade. Perdemos também a capacidade de perceber que necessitamos dessa biodiversidade para nosso bem-estar.

Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM)
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio, ou apenas AEM (Millennium Ecosystem Assessment) foi lançada pelas Nações Unidas em 2001 e concluída em março de 2005, com cerca de quinze produtos, entre sínteses, declarações e relatórios. O trabalho reuniu representantes de convenções internacionais, agências da ONU, organizações científicas, lideranças do setor privado, representantes da sociedade civil e organizações de povos tradicionais. 
Aqui abordaremos apenas o principal aspecto da AEM: a importância vital dos serviços ecossistêmicos (suporte, provisão, regulação e cultura) e suas relações com o bem-estar humano. Os resultados da AEM estabelecem essas relações complexas de forma clara e figuram não apenas como avaliações do estado de degradação ambiental, mas também como proposições de resolução aos problemas em âmbitos global, nacional e local.
O quadro abaixo demonstra como nossa sociedade tende a substituir elementos naturais oferecidos pelos servi-
ços ecossistêmicos por aparatos tecnológicos, sem entender que eles coexistem e caminham juntos para garantir condições fundamentais para o bem-estar humano. São eles: liberdade de opção, segurança, saúde, boas relações sociais e conforto material básico.

Serviços ecossistêmicos
Os serviços ecossistêmicos são os serviços oferecidos pela natureza aos seres humanos e considerados fundamentais para a continuidade da vida no planeta. Também conhecidos como serviços ambientais, referem-se à produção de oxigênio pelas plantas, à capacidade de produção de água e ao equilíbrio do ciclo hidrológico, à fertilidade do solo, à vitalidade dos ecossistemas, à paisagem, ao equilíbrio climático e ao conforto térmico. A AEM sugere a seguinte classificação para esses serviços:
• Provisão de alimentos, água, madeira, fibras;
•Regulação – efeito regulador do clima, de inundações, de doenças, de resíduos, da qualidade da água;
•Culturais – benefícios estéticos e espirituais, para a recreação, a educação;
•Suporte – apoio para a formação do solo, a fotossíntese, o ciclo de nutrientes.
Esses serviços são provenientes de diferentes ecossistemas, das montanhas aos mares; das florestas aos mananciais de água doce; dos manguezais à Floresta Amazônica; do Cerrado aos Pampas; do Semi-Árido à Mata Atlântica. 
A prestação desses serviços depende diretamente do funcionamento saudável e do equilíbrio dos ecossistemas que, no entanto, vêm sendo comprometido pela atividade humana. A AEM apresenta um balanço desolador em relação às três primeiras categorias, indicando um declínio na provisão desses serviços. Segundo a avaliação, nas últimas cinco décadas houve modificações intensas e rápidas nos ecossistemas, impedindo sua regeneração, o que se agrava com o rápido crescimento populacional.
Em outras palavras, o comprometimento dos ambientes naturais por exaustão e depredação e o desaparecimento de culturas humanas, ou seja, a perda de biodiversidade e de diversidade cultural, colocam em risco nossa própria sobrevivência. Estamos perdendo água, perdendo a capacidade de reagir às catástrofes naturais, perdendo recursos genéticos. 
Apesar do crescimento do PIB em centenas de países, dos avanços da tecnologia e da informática e do relativo crescimento de acesso a bens de consumo e serviços de educação e saúde, a desigualdade e a pobreza têm crescido, juntamente com as dificuldades de acesso aos serviços ecossistêmicos. Enquanto o território para uso se degrada, os efeitos desse impacto apresentam implicações diretas sobre o ambiente sociocultural. 
Ambiente natural e social se sobrepõem e coexistem e, assim, as perdas ecossistêmicas representam também perdas das e para as culturas.
As comunidades chamadas originárias e tradicionais, que menos impactos causam ao ambiente, são justamente aquelas cujos modos de vida – desde o manejo da natureza até as manifestações culturais – dialogam com o ambiente. Trata-se de comunidades em que pesca, coleta, agricultura de subsistência se misturam a valores como cordialidade, solidariedade e espiritualidade. Todavia, essas comunidades raramente são ouvidas e invariavelmente acabam sofrendo os reflexos dos impactos ambientais causados por outros.

LIGANDO CONTEXTOS – Entre diversos outros problemas, com o aumento crescente e abrupto das áreas de cultivo agrícola, atualmente há fixação de grande quantidade de nitrogênio em cerca de um quarto da superfície do planeta. Do ponto de vista hidrológico, quais as consequências da formação de óxido de nitrogênio? Que tipo de desequilíbrio causa nos mares? Procure o(a) professor(a) de Química de sua escola a fim de responder a essa questão.
Apesar do caráter catastrófico da AEM, muito ainda pode ser feito para reverter esse quadro. É preciso reagir com transformações políticas e institucionais, além de práticas coletivas e individuais. É necessário olhar a realidade de forma crítica, pensando que ela pode e deve ser transformada a partir de nossas ações. O território não é estático, assim como nossa condição de sujeitos no mundo. É justamente à noção de territorialidade que se dedica o primeiro eixo do próximo módulo. 








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